sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Canções e memórias são o melhor presente deixado por Carlos Paião


“Vou contar-lhe uma coisa. Ain­da há uns dois meses me vieram aqui bater à porta. Eram duas crianças com 5 ou 6 anos que tinham aprendido uma música na escola, e, como sabiam que era do meu filho, quiseram vir cantá-la para mim. E foi tão giro estarem ali a cantar a ‘Cinderela’ à minha porta. Também no outro dia, no supermercado, encontrei uma criança a cantar o ‘Vinho do Porto’, acredita? E essas coisas simples são uma consolação e uma alegria tremendas. Ver crianças de uma geração tão posterior à do Carlos a cantarem as canções dele”. É habitual Ofélia Marques emocionar-se com a “presença” constante do filho, Carlos Paião, no seu dia-a-dia, tantas vezes trazida no embalo da imortalidade das suas músicas. E é fácil perceber quão orgulhosa fica a antiga professora primária, hoje com 82 anos, pelo reconhecimento que é prestado ao filho, falecido em 1988, aos 30 anos. O que Ofélia garante que não esperava era a homenagem que, hoje, Ílhavo, a sua terra natal e local onde Carlos Paião passou os primeiros sete anos da sua infância, começa a prestar ao cantautor que teria celebrado 60 anos na passada quar­ta-feira. “Fui apanhada de surpresa e fico muito emocionada por perceber que ele não está esquecido”, revela, de voz embargada, em conversa telefónica com o Diário de Aveiro. Devido a questões de saúde, Ofélia Marques e o marido, Carlos Paião, não vão poder estar presentes em nenhum dos dias da Milha - Festa da Música e dos Músicos de Ílhavo, que se prolonga até domingo. Mas como este evento foi recebido pelo casal como um presente para eles, conforme o nosso jornal percebeu durante a conversa - “seria uma alegria enorme poder assistir a essa homenagem e viver esse momento” -, o guião destas linhas será construído com frases e memórias desfiadas por Ofélia Marques. Na “Milha”, “Carlos Paião é o mote”, resume Luís Ferreira, director do 23 Milhas que, em parceria com a Associação Artística Cais do Som, promove um evento que vai envolver cerca de 600 músicos do concelho. Serão três dias de festa que integra dez concertos na Casa da Cultura de Ílhavo e na Fábrica das Ideias da Gafanha da Naza­ré, mas que inclui ainda duas oficinas sobre a obra de Carlos Paião. Tudo de entrada livre.

ADÉRITO ESTEVES, DIARIO DE AVEIRO, 03/11/2017

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